Continue a nadar

Travessia Cananéia - Ilha Comprida
Rua do Mar- Cananéia - SP
Os acontecimentos políticos e
econômicos recentes em nosso país, parece um déjàvu dos anos
80 e 90.
Naquela época eu era um
missionário retornado, cheio de planos e esperanças de ter um trabalho que me
assegurasse um passaporte econômico para um casamento.
Retornei da missão em 83 e só me
casei em 1990.
Foi uma época deveras
desafiadora. Passei pelos diversos planos econômicos, pela URV e início do
Real. Então posso afirmar que sei o que é vivenciar uma crise econômica e sei o
que inflação de fato.
Observando as coisas, as reações
e previsões, me fez lembrar de um período em minha juventude em Cananéia,
no litoral sul paulista.
Lá, uma de nossas diversões favoritas, era
Lá, uma de nossas diversões favoritas, era
nadar no braço de mar que separa a Ilha de Cananéia da Ilha
Comprida. Um Ferry Boat faz a travessia entre as ilhas.
No verão, ou sempre que havia sol
e tempo bom, lá estávamos nadando, pulando do atracadouro do ferry boat, eu,
meu irmão e a turminha da escola.
Pular do trapiche era divertido,
mas sempre inventávamos outras brincadeiras na água, como esconde –esconde e
pega-pega. Umas dessas invencionices é que eu quero compartilhar.
Neste braço de mar, havia a
vazante e a cheia. Na vazante, a corrente puxava muito. Não era recomendado
nadar neste período, tanto que poucos caiam na água. Como se trata de um braço
largo de mar, a vazante próximo das bordas não oferecia grandes perigos par
quem sabia nadar.
Pois bem: a turma inventou de
nadar contra a corrente, desde o trapiche, até um pequeno atracadouro de
lancha, que ficava ao longo da Rua do Mar, distante, creio uns 150 metros.
Entre o trapiche do ferry-boat
até o destino, havia boias de amarração de pequenas lanchas e barcos.
O desafio era quem conseguisse
fazer o trajeto até o fim, parando numa dessas boias no meio para descansar. Daí
caíamos na água em grupos de dois ou três e lá íamos nós. Meu irmão sempre ia
comigo.
Ao cair na água, quem parava de
nadar, ao se dar conta, estava do lado oposto do trapiche. Daí tinha que sair
da água e pular de novo do lado correto.
Nadar contra a corrente é dar
duas braçadas e voltar uma. Bater as pernas era crucial.
Quando estávamos na água, todos
tinha um foco: primeiro a boia no meio do caminho, uma pausa para recuperar as
forças e em seguida, braçadas e pernadas até chegar no ponto combinado.
Quando se é jovem, pouco se sente
o cansaço, principalmente quando se trata de diversão. Ao chegar no ponto, o
desafio era subir no atracadouro, que fica alto devido a maré baixa. Mas depois
de subir, todos se divertiam pelo feito de uns dos outros e ficamos observando
outros chegarem e outros voltando com a maré. Aliás, pular de volta é que era o
ponto máximo. A gente só precisava se
deixar levar de volta até o trapiche de origem.
Pois bem, lembrando dessas
alegrias em Cananéia, pergunto-me que tipo de atitude devemos ter em relação ao
momento político-econômico que vivenciamos.
Em particular, na década de 90,
em plena era Collor, eu trabalhei com vendas. Sim. Vendas em tempos de crise.
Também desenvolvi alguns empreendimentos em áreas diversas.
Vender, ser profissional de
vendas em tempos assim é exatamente como nadar na vazante.
Nadar na vazante torna os braços
e as pernas mais forte. Além do que, os pulmões ficam mais fortes. A oxigenação
de todo o corpo e o cérebro fica melhor. (Só um adendo: sou respirador bucal
desde meus oito anos).
Umas das coisas que aprendi
vendendo na vazante é que as pessoas continuam com necessidades para serem
atendidas de uma ou de outra forma.
Em tempos assim, alguns param,
mas outros continuam a produzir. Se há produção, alguém tem que vender, por que
há pessoas que vão comprar.
Se me lembro bem, naquela e nesta
época eu compro pãozinho, leite, ando de carro, ônibus, almoço, preciso de
sapatos e roupas. Eu como pizza, e compro doces. Talvez não façamos estas
coisas com a mesma frequência que em tempos de maré cheia. Afinal, pular na
vazante não era coisa para se fazer todos os dias ou todas as semanas.
Mas convenhamos, se pararmos, a
maré leva.
Além do que, há tempos de vazante
e de cheia.
Por isso, fique com o conselho da
Dori: “Continue a nadar!”