Independência

O Grito do Ipiranga
Sete de setembro.*
Na década de setenta, quando estava no ginásio (hoje ensino fundamental), esta data significava para mim apenas a comemoração da independência do Brasil dos domínios de Portugal.
Certa vez, o professor de português e inglês da sétima série, comentou em classe, que o Brasil era independente de Portugal como nação, mas totalmente dependente dos EUA, pela política econômica vigente na época.
Vale lembrar que naquela época
vigorava a crise do petróleo e o regime político era a ditadura militar.

Dizer, ou simplesmente, orientar jovens da sétima série, com noções políticas e senso crítico e em uma escola estadual era como por a cabeça na guilhotina voluntariamente.
Nem mesmo o professor da antiga disciplina OSPB (Organização Social e Política do Brasil), ousava tanto.

Mas o professor Cirineu Pupo era “o professor” e sabia quando e como falar “certas coisas”.

Caí na besteira de comentar a aula em casa e tomei maior bronca da minha avó e de minha tia:
“Onde já se viu dizer uma barbaridade destas, menino?”
“Você não deve ter prestado a atenção na aula!!”.

Em tempos de ditadura as pessoas não ousavam ter “idéias”.
Mas o professor Cirineu,(o melhor mestre que já tive) estava com razão.
Não éramos e ainda não somos economicamente tão independentes quanto gostaríamos de ser.

Não somos porque a política de juros vigente é devido a pressões econômicas externas.
Se abaixarem os juros, o investidor internacional retira daqui seu capital. A grande vantagem de se investir no Brasil é em função dos juros altos e não na força produtiva de nossas indústrias e mercado interno.

Quanto mais dinheiro externo precisarmos para satisfazer nossas necessidades, mais dependentes ficamos de quem nos empresta. Seja de uma pessoa ou instituição.É o caso do Brasil.

Não sei em quanto está hoje a dívida pública e a externa.Lembro-me que, naquela época, o assunto principal nos noticiários e debates era a dívida externa e a alta inflação.
Este debate ainda vigorou na década de oitenta e noventa.
O Brasil produzia, exportava, trabalhava, mas não conseguia se livrar dela.
Quando recorria ao FMI, conseguia empréstimos apenas para pagar os juros da dívida.
A política econômica de um país determina a prosperidade de seu povo.
A independência ou dependência da uma nação reflete diretamente na independência ou dependência de seus cidadãos. Um é o espelho do outro.

Muitos de nós, vivemos dependentes de empréstimos e créditos para satisfazer nossas necessidades.
Nessa situação, quanto mais trabalhamos, mais temos que pagar.
Não conseguimos usar o salário ou renda do mês em algo que queremos comprar e pagar hoje, pois a renda já está comprometida com débitos anteriores.
Nossos rendimentos servem para pagar as parcelas dos empréstimos ou o pagamento mínimo do cartão de crédito.  E isso se torna vicioso.

Com as famílias endividadas, o dinheiro não circula.
O dinheiro não circulando, a produção tende a parar por falta de procura e bens e serviços.
Mas a indústria não pode parar, pois entraria em colapso. Então, libera-se mais crédito para que as lojas vendam e os cidadãos comprem.
E preço do crédito é o juro. 
O juro é a moeda circulante atual,mas circula nas mãos de poucos.
O que sobra para circular é o crédito.
Só que você tem necessidades constantes para satisfazer.
E o que você faz?
Cheque especial, cartão de crédito ou mais empréstimos.
Dessa maneira tornamo-nos tão dependentes quanto a nação o é.

Sete de setembro.
Naquela aula tive minha primeira lição de cidadania e comecei a entender o verdadeiro significado do símbolo da Independência do Brasil.

Como cidadãos, não podemos influir diretamente nos rumos da independência econômica da nação, mas podemos alcançar a nossa própria independência financeira.
Sua casa é a sua nação.
Busque o seu grito do Ipiranga.

Em tempo, o dia sete de setembro é muito especial para mim por que é a data do nascimento do meu primogênito, Guilherme Cândido.
* Artigo escrito originalmente em 08/09/2004 e publicado em Jotnal Metrópole de São Vicente-SP

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